quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A decepção de um programador iPhone

Notícias na Internet, na TV e na mídia impressa alardeiam o grande sucesso do iPhone e de sua vasta loja de aplicativos, a App Store. O que não faltam são histórias de sucesso de desenvolvedores que faturaram milhares de dólares em pouco tempo com aplicativos que poderiam ser feitos por uma criança de 12 anos. Era a oportunidade perfeita para mim. Aos 11 anos eu já tinha um site sobre programação e desenvolvia jogos simples e gratuitos. Ora, por que não aproveitar para ganhar dinheiro com uma coisa que eu já fiz tantas vezes apenas por lazer?

A fórmula da App Store, do ponto de vista de um desenvolvedor, é bem simples:
  • fazer um aplicativo simples no tempo livre;
  • mandar para a App Store, fixando o preço de venda;
  • lucro!
A App Store cuida da distribuição e da comercialização de aplicativos, deixando os desenvolvedores livres para criar programas criativos, úteis ou divertidos. Com essa perspectiva, decidi que dedicaria uma parte do meu tempo, já fragmentado entre trabalho e mestrado, ao aprendizado da programação para iPhone. Meus argumentos já estavam na ponta da língua: "vou investir algum tempo fazendo algo que gosto, publicar na App Store, e então esperar o dinheiro entrar na minha conta".

O primeiro obstáculo veio quando descobri que, para desenvolver para iPhone, eu precisaria de um Mac. Mas eu já tinha tomado minha decisão e não ia deixar esse detalhe me abalar. Consegui com um colega de trabalho o DVD de instalação do Mac OS X adaptado para PCs e, após algumas tentativas, consegui instalar no computador de minha esposa.

Em seguida, descobri que precisaria aprender uma nova linguagem de programação: Objective C. Isso me consumiu um tempo maior do que eu previa mas, logo que aprendi um pouco da linguagem, decidi que já ia começar a escrever o meu aplicativo.

Já tinha algumas ideias na cabeça, e resolvi que meu primeiro aplicativo seria um jogo de palavras. Na época o Forca Brasil figurava na lista dos 10 aplicativos mais vendidos na App Store brasileira. Lembrei-me de um jogo em Flash que minha mãe havia me mostrado recentemente, o LeTroca, e constatei que não existia um jogo do gênero na loja brasileira. Claro, na App Store dos Estados Unidos já existiam dezenas de jogos estilo LeTroca, em inglês, mas ao menos no mercado brasileiro eu teria exclusividade.

Assim surgiu o Sopa de Letrinhas. A ideia é bem simples — formar palavras a partir das 6 letras que aparecem embaralhadas na sopa —, mas a interface foi cuidadosamente planejada para imitar a experiência de formar palavras na borda de um prato de sopa de verdade. Denise, minha esposa, cuidou para que o visual do jogo ficasse atraente. Juntos, gastamos horas selecionando as palavras que entrariam no jogo, até chegarmos a uma lista de 5 mil palavras que depois foi reduzida a 3 mil.



Em outubro, enfim, fiz meu primeiro investimento em dinheiro no projeto: comprei um iPod touch de 8 GB. Logo depois veio o segundo investimento: paguei US$ 100 pela licença de desenvolvedor para iPod/iPhone. Contrariando expectativas pessimistas, em seis dias a Apple processou meu pedido e liberou a licença. A partir daí eu pude testar o jogo no iPod (antes eu usava o simulador), o que injetou ânimo no projeto.

Eu tinha várias ideias de funcionalidades legais para o Sopa de Letrinhas, mas decidi deixar algumas de fora para conseguir aprontar o jogo para o Natal. Estatísticas animadoras mostravam que o volume de vendas no Natal era o quádruplo do normal. Minha esposa sugeriu que o lançamento fosse no dia 25 de dezembro, de forma que pessoas que viessem a ganhar iPods e iPhones no Natal veriam nosso jogo na lista dos últimos lançamentos.

Enfim, no dia 8 de dezembro eu mandei o jogo para a Apple, fixando o preço de 1 dólar. Por causa de relatos que li, esperava que o processo de revisão durasse duas semanas — ainda daria tempo de lançar no Natal. Isso, claro, se o jogo fosse aprovado. Na Internet não faltam relatos de aplicativos rejeitados sem muitas explicações, e outros tantos rejeitados por motivos bestas.

Mesmo assim eu estava confiante e fiz meu terceiro investimento: juntei umas economias e comprei um MacBook. Eu estava muito otimista e esperava recuperar esse dinheiro em no máximo um mês.

No dia 16 de dezembro a Apple aprovou o Sopa de Letrinhas — apenas 8 dias após o meu envio, portanto. Por circunstâncias diversas, acabei antecipando o lançamento para o dia seguinte, quarta-feira 17.

A partir de então eu passei a acompanhar diariamente o relatório de vendas fornecido pela Apple. As duas primeiras vendas só ocorreram no dia 19. Entrei em contato com alguns dos maiores sites brasileiros sobre iPhone e, na segunda-feira, 21, um deles publicou uma análise sobre o Sopa de Letrinhas.

Quando fui olhar, o Sopa de Letrinhas já era o 12º aplicativo mais vendido da categoria Educação! Pouco tempo depois, subiu para 8º. O Sopa de Letrinhas estava lentamente subindo no ranking, rumo ao número 1. Mas, de repente, chegou à 5ª posição e lá ficou. Acima dele, 4 aplicativos de Renato Pessanha.

Tá certo que o jogo não chegou a ser o mais vendido da categoria, mas ser o 5º mais vendido já era animador. No dia seguinte consultei, animado, o relatório de vendas. Apenas 8 cópias vendidas no dia. E não em qualquer dia: o jogo vendeu 8 cópias no dia em que foi o 5º mais vendido de sua categoria.

Foi uma grande decepção.

O Sopa de Letrinhas não chegou a figurar na lista dos 100 aplicativos mais vendidos de todas as categorias, mas pelas minhas aproximações deve ter ficado entre o 101º e o 200º. Usando uma fórmula desenvolvida por um desenvolvedor australiano que relaciona ranking com número de vendas, isso deveria me garantir entre 30 e 42 vendas no dia. Mas pelo jeito essa fórmula erra feio quando aplicada à App Store brasileira. O mercado brasileiro é cerca de 5 vezes menor do que o australiano.

E quanto às vendas de Natal? Caíram a um terço das vendas pré-natalinas. O Sopa de Letrinhas precisou de três dias, 24, 25 e 26, para vender as mesmas 8 unidades.

Definitivamente, o retorno financeiro não é o que eu esperava. Resta, no entanto, a satisfação de programar para um dos dispositivos de computação comerciais mais inovadores dos últimos anos.

13 comentários:

  1. Acho que o mercado de apps para iPhone já está bem saturado... Mas agora tem o iPad, né? Uma nova corrida pelo ouro.... heheh

    PS.: Eu achei o "Sopa de Letrinhas" muito legal. Parabéns!

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  2. Eu passei pelo mesmo problema.

    Fiz um jogo para a app store americana que realmente rendeu algum lucro, o "Paper war".

    Na App Store brasileira, ele não vendeu praticamente nada.

    Solução: jogos free para os brasileiros.. já não tem categoria Games aqui..

    Depois dê uma olhada no meu jogo "Lost Castle Frog"

    atts,
    Bruno

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  3. Antes de tudo parabéns rapaz! Sério! Mestrado, trabalho e muita criatividade resultaram em um otimo produto. Eu mesmo nao sabia da existencia dele se nao fosse a chamada no Blog Do Iphone, mas infelizmente acabei esquecendo. Porém comprei hoje mesmo porque vale a pena. Porém vc tentou distribuir lá na App da Argentina né? Abracao, Jeff

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  4. "Acho que o mercado de apps para iPhone já está bem saturado... Mas agora tem o iPad, né? Uma nova corrida pelo ouro.... heheh"

    Saturado? Está apenas dando seus primeiros passo, não tem nem 5 anos direito ainda.

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  5. Deve salientar também que podemos integrar as apps com aplicações e serviços oferecidos via web. Isso pode fazer um grande diferencial quando estamos integradando o produto.

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  6. Fala Rodrigo!

    Voce sabe sobre a publicao de Apps brasileiras (jogos, especificamente) nas demais AppStores, e nao soh na brasileira ? Ainda nao possuo a licenca, mas sera que trata-se de algo muito burocratico ou simplesmente seleciona-se onde publicar, no momento do submit da App ?

    Abraco!

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  7. @Lucas: é só submeter um jogo tranquilo na categoria Games, sem qualquer burocracia adicional.

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  8. Cara fazer apps ou sites ou qualquer outra coisa pra Brasileiro é perder tempo, se nosso pais tem menos de 30% da população conectada imagina quantos % tem iPhone ou iPad, acho que você deve forcar no mercado internacional Estados Unidos Europa e Asia, pense que metade do mundo está na China, Parabéns pelo blog!

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  9. Sou um feliz proprietário desse jogo não desanime cara uma hora vc acaba lançando um "blockbuster".

    Força.

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  10. Rodrigo,

    Em primeiro lugar, parabéns pelo app Sopa de Letrinhas! É genial, conseguiu viciar minha namorada nele, e eu mesmo comprei uma cópia!

    Meu nome é Thomaz, Sou empreendedor e estamos buscando alguém para programar um app para iphone, para fazer conjunto com uma parte de hardware, que se você tiver interesse, podemos entrar em detalhes. Pela qualidade do seu app, já sabemos que você tem as habilidades necessárias para essa empreitada!

    Se tiver interessado, meu e-mail é thomaz.cortes@gmail.com.

    Um grande abraço,
    Thomaz

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  11. Bom dia Rodrigo,
    procuro um programador part-time para smarphones para uma aplicação de segurança.

    Se tiver interessado, o meu mail é pedro_vaz@hotmail.com

    Cumprimentos,
    Pedro Vaz

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  12. Parabens pelo sopa de letrinhas, eu antes de conhecer sua historia havia comprado no appstore parameu filho de 5 anos
    gostaria de contrata-lo para desenvolver um aplicativo que tenho certeza que rapidamente desenvolve,,, eh apenas para enviar uma foto apos batida no iphone, para um diretorio especifico de um sistema que desenvolvi em php e mysql.. Robson.. robson.ortopedista@gmail.com
    se interessar ou nao, por favor me contacte por email.

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  13. Olá Rodrigo, como faço para entrar em contato com você? Pode me fornecer o e-mail?

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